segunda-feira, 25 de junho de 2012

PIRÃO ESCALDADO


Se expulsos e/ou mortos no final do século XVll, ou se foram aculturados no processo de caboclização, os índios de antes do nascimento do Reino do Louro deixaram marcas profundas na vida dos habitantes de Icó e Lima Campos.
Uma das marcas é a cultura da mandioca, que os Tupis difundiram entre os nomâdes Tapuias, que assim ficavam sossegados mais tempo em um mesmo lugar, ocupados em colher e transformar tubérculos em farinha d'água e carimã.
Se a mandioca reinava entre os índios, transferiu seu reinado às mesas brasileiras de hoje, através das tapiocas, dos beijus, mingaus e bolos de puba, e do pirão, essa instituição nacional.
Para o folclorista Câmara Cascudo, pirão é sinônimo da própria alimentação brasileira:

"Está na hora do pirão": "Farinha pouca. meu pirão primeiro". "Sem pirão, não vai não!": "Com mulher e pirão, faz-se a função". "Sem pirão. não há eleição!": "Por cima do pirão basta um engano"

Câmara Cascudo aponta a existência de dois tipos clássicos de pirão de farinha de mandioca.
Um desses tipos é o pirão cozido ou mexido, em que a farinha vai sendo adicionada ao caldo fervente até que fique no ponto, adquira consistência.
É herdeiro de Além-Mar, dos caldos engrossados de cereais, papas e purês da alimentação camponesa européia, que os portugueses trouxeram para o Brasil e adaptaram à farinha local.
Outro tipo é o pirão escaldado, indígena, que acompanha as peixadas brasileiras, inclusive a Peixada de Lima Campos.

Pertenceria inicialmente, aos simples "escaldados". caldo quente sobre farinha, citados pelos cronistas quando o Brasil amanhecia. Esse pirão escaldado, o legítimo brasiliense, pré- colombiano, mais conhecido e mantido nos sertões e praias.
Provaria maior persistência popular porque exige "sabedoria" para espalhar o caldo quente no monte de farinha...(CASCUDO, Luís da Câmara. História da alimentação no Brasil-3.ed.São Paulo: Global.2004.)

Do livro: Bem Vindo ao Reino do Louro e da Peixada. ( José Mapurunga ).

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