segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

CANAL DE TRANSPOSIÇÃO DESMORONA EM ICÓ

Foto: Honório Barbosa (Diário do Nordeste)

O projeto é uma reivindicação antiga para transferência de água do Açude Lima Campos para a irrigação

Mais um exemplo de desperdício de recursos federais vem deste município, na região Centro-Sul do Ceará. O canal de adução ou transposição de água no Perímetro Irrigado Icó - Lima Campos não suportou a primeira chuva. Cerca de dois quilômetros foram totalmente destruídos. As placas de cimento foram arrastadas.
O fato gerou revolta entre os agricultores que reivindicam o projeto há mais de 15 anos. A obra está orçada em R$ 15 milhões e é construída pelo consórcio formado pelas empresas Cosampa e Britânia. Os recursos são oriundos do Ministério da Integração Nacional, por meio do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs). O prejuízo ainda não foi calculado, mas foram pelo menos seis meses perdidos de trabalho, além do material.
A chuva que banhou o município na quinta-feira passada, em torno de 20mm, foi suficiente para destruir cerca de dois quilômetros do canal em obra. O projeto mostrou-se frágil. Não foi feita drenagem e nem contenção de água pluvial. Em um dos trechos, o canal está bem abaixo do solo. O terreno de característica vertissolo (barro ou massapê) racha com facilidade no período chuvoso. A água encobriu com facilidade o canal e houve infiltrações ao longo das bordas que abalaram as placas (finas) de cimento com brita, que se soltaram e foram arrastadas.
"Parece que houve um terremoto", disse o presidente da Associação do Perímetro Irrigado Icó-Lima Campos, Rui Teixeira. "O nosso sonho de espera de 15 anos virou pesadelo". Teixeira reafirmou que não faltaram avisos. "Qualquer pessoa vê que essa obra está mal feita, sem drenagem, sem colocação de piçarra", frisou. "Nós avisamos por diversas vezes que não daria certo".
A água da chuva seguiu o nível do terreno e abriu uma cratera em um ponto do canal, demonstrando a necessidade de obra de escoamento. O presidente da Associação de Moradores do Conjunto Alfa, local onde houve o estrago do canal, Antonio Barbosa de Lima, estava revoltado. "O riacho encheu e a água escorreu para dentro do canal porque não fizeram obra de contenção e nem de desvio de água das chuvas. Todos sabiam que esse projeto não estava sendo bem feito", disse. O aposentado, Francisco Souza, foi irônico: "Essa obra parece que foi feita por criança".
Um funcionário da empresa falou sob a condição de não ser identificado e reafirmou o que os leigos observaram. "Houve avisos, mas não quiseram ouvir que era preciso serviço de drenagem". Rui Teixeira comparou a construção do canal atual com os outros existentes no Perímetro, implantado na década de 1970. "Os primeiros estão aí, de pé, foram bem feitos".
O engenheiro responsável pela execução da obra, identificado por Bruno, disse que não podia falar pela empresa, mas adiantou que a obra foi executada conforme o projeto. Sobre o valor do prejuízo, limitou-se a dizer que "está sob análise". Ainda não se sabe quem vai arcar com o prejuízo, se o consórcio ou o Dnocs.
O coordenador regional do Dnocs, José Falb Ferreira Gomes, esteve reunido, na sexta-feira, com representantes da Adicol e o chefe local do Dnocs, que lhe mostrou fotos do canal destruído. "O projeto será readequado e a empresa assumiu o compromisso de refazer a obra", disse. "Serão realizados serviços adicionais e outros não necessários serão retirados. O projeto vai continuar".
O canal de adução terá 9 km de extensão em sua primeira etapa. Cerca de 3 km estavam em construção, mas dois foram destruídos. A obra começou em março de 2014 e teria prazo de conclusão de um ano. O projeto é uma reivindicação antiga dos agricultores do perímetro, pois vai possibilitar a transferência de água do Açude Lima Campos, por gravidade, para a irrigação de dois terços dos lotes que permanecem praticamente sem produção há quase 20 anos. Será feito um sifão e canal de passagem de água sob o Rio Salgado.
Está prevista para hoje (segunda-feira) uma visita de engenheiros e dos donos das empresas responsáveis pela construção do canal e de técnicos do Dnocs para avaliar as causas da destruição da obra.
Mais informações:
Dnocs
Fone: (85) 3391. 5300
Adicol
Fone: (88) 3561. 1974
Fonte: Diário do Nordeste
Honório Barbosa
Colaborador

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