quarta-feira, 30 de maio de 2012

DONA TETÉ



Teté é o apelido familiar de dona Adelaide Roberto de Sousa, nascida a 09 de novembro de 1948 no sítio Batalha, em Lavras da   Mangabeira, um município vizinho ao Icó.
Ela veio para Lima Campos em 1965 e, dois anos, retornou par ao sítio Batalha em Lavras da Mangabeira, voltando para Lima Campos a 17 de maio de 1974. Dai viveu no povoado até 22 de outubro do ano 2000,quando mudou sua residência para uma casa no centro de Icó.
Dona Teté, que guarda na memória as datas exatas dos acontecimentos de sua vida, relembra os bons tempos em que viveu em Lima Campos.
Ela diz que morava "na rua", na sede do distrito e tinha um sítio onde ela e marido, que também era protético de profissão, trabalhavam para complementar a renda familiar.

" Agricultura! Vivia da roça, plantava... antes, na década de sessenta até setenta e pouco se plantava milho, feijão, algodão, arroz. Ai depois acabou o algodão. Teve a história dum bicudo e acabou o algodão.Ai a gente ficou plantando milho, feijão... compramos um gadim, ai ficou vivendo. Deu pra criar a família"

Comparando, dona Adelaide relembra. Nos primeiros tempos em que viveu em Lima Campos, tudo que precisava tinha que ir comprar no Icó, e o transporte era difícil, uma vez por dia, um misto de cabine de madeira que fazia a linha para Iguatu, no qual galinhas e porcos trepidavam em uma estrada carroçável, misturados aos passageiros.
Diferente de hoje, em que topiques transitam várias vezes por dia entre as duas locolidades.
Diz que agora Lima Campos tem duas farmácias, tem mercantil, quando antes só havia comércios como o do Chico Limeira, em que alimentos e outros produtos, como material de pesca, erma vendidos juntamente com alguns remédios que o povo usava mais.
Dois comércios no máximo, que forneciam aos funcionários do DNOCS, ao pessoal que vivia de agricultura e pescadores.
Comentando como eram as casas em que o povo vivia, dona Adelaide diz que eram casas de taipa, porque o DNOCS não permitia que construíssem casas de tijolos e nem fizessem os pisos de cimento.
Diz que eram casas de quintais grandes, com muitas fruteiras: mangueiras, coqueiros e ateiras.
Na maioria, casas como a sua, de dois quartos, uma sala, sala de janta, cozinha...
Quando estimulada pelo o entrevistador, a memória de dona Adelaide, a Teté, relembra a vida dura e disciplinada que os filhos não passassem necessidades e pudessem estudar.
Filhos hoje " todos criados".
Uma vida compartilhada com outros moradores e com pessoas que acudiam a comunidade nos momentos de aflição, tipo o Chagas Piauí e Doralice de Frutuoso, rezadores,que na falta de médico e dentista curavam crianças e resolviam quase tudo.
Sobre a benzedeira Doralice, diz dona Adelaide:"...incrível contar, mas existe milagre, você tava com dente doendo, ela rezava, parava de doer e, muitas vezes, caía".
Com quase nenhum espaço para divertimentos, o cotidiano da vila com seus longos dias ensolarados e suas longas noites escuras (porque as ruas eram iluminadas até às nove da noite), era preenchido com radinho de pilha, no qual ela ouvia a rádio Alto Piranha de Cajazeiras, Paraíba, e uma emissora de Salvador, Bahia, na qual escutava cantorias de Antônio Maracajá e Pedro Bandeira.
Lembra que havia uma radiadora montada na igreja de São Sebastião que passava o dia todo tocando musicas de Agnaldo Timóteo e Roberto Carlos.
Sobre artistas da vila de Lima Campos, só se lembra de um músico, Chico Corneteiro, "... um véi que tocava corneta". Recorda-se, também que algumas ocasiões aconteciam festas dançantes animadas.

" ...Ai tinha a festa do Cine Hotel era dos brancos.
E tinha a festa de Zé de Oliveira que era... é...
ele tinha um terraço vizinho à casa dele, lá que era a festa dos pretos. Eu não tenho lembrança de quem não era preto e nem branco, eu não sei o meio que ficava, eu não lembro.Parece que era os caboclo que se misturavam com os pretos.

A festa de São Sebastião, um acontecimento aguardado o ano inteiro pela população de Lima Campos, também está presente nas memórias de dona Adelaide.
Ela esclarece que a procissão, o auge da festa, antecidida pelas as nove noites de novena, não pussuía um dia fixo para acontecer. Tinha que ser em um sábado ou domingo para que o pessoal do DNOCS pudesse participar.
Outra festa que ela não esquece é a festa do dia da Pátria, sete de setembro, que antes, em Lima Campos, possuía um colocrido especial e era uma das melhores comemoração da data entre vários distritos do município de Icó.
Havia gente representando Dom Pedro, ìndios, negros e tantos outros personagens da história.
Època de muito peixe, o prato preferido. Em Lima Campos, como revela dona Adelaide, havia muitos pescadores profissionais que vendiam o pescado nas casas da vila ou então para outras cidades.
No que se refere às peixadas, dona Adelaide rememora a peixada que pertenceu ao finado José Viana, favorecida pelo o fato da estrada para Iguatu então passar na parede do açude, o que atraia para Lima Campos os viajantes que passavam.
E pelo o grande movimento da usima de beneficiamento de algodão de propriedade de Eliseu Batista, em Orós, que também fabricava
óleo e sabão, para onde se dirigiam caminhoneiros, executivos e compradores.
Muita gente parava em Lima Campos para almoçar ou jantar e assim a fama da peixada foi se espalhando.
Dona Adelaide tem dúvidas, mas pensa que a peixada de José Viana foi vendida para Beto Loiola, que depois a vendeu para seu irmão José Gomes Loiola, O Zeca da Peixada do Zeca, que ao lado da peixada do Xixico são as duas mais conhecidas de Lima Campos, localizadas na praça cantral de Lima Campos, atendendo de domingo a domingo.
Também relembra o Chico Cascavel, que na década de 1970, inaugurou sua peixada na beira do açude, construindo cozinha de tijolo, banheiro e um galpão coberto com palha de coqueiro, a conhecida "Prainha de Chico Cascavel", este passou anos com o negócio e depois vendeu ao ex genro de dona Adelaide.

Extraído do Livro: Bem Vindo ao Reino do Louro e da Peixada.( José Mapurunga) *2008



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