sábado, 24 de março de 2012

APELIDO É COISA SÉRIA, PALMINÊ


Um dos apelidos mais famosos da minha cidade surgiu numa casualidade interessante. A banda de música do Senhor do Bonfim, de Icó-CE, foi fazer uma apresentação na festa de São Sebastião, no Distrito de Lima Campos. Janeiro de 1958.
O maestro João, cujo nome de batismo eu desconheço, conduzia a banda num regime muito rigoroso. Ele era militar e tratava os componentes da banda baseado no modelo do departamento de recursos humanos do Exército. E tinha que ser assim por que eram visíveis os problemas de alcoolismo. Por outro lado, manter a ordem e a disciplina numa banda que não recebia nada em troca além do simples prazer de tocar, convenhamos, era uma tarefa difícil.
A apresentação estava prevista para o início da noite, quando as autoridades convidadas estariam presentes.
Para tomar banho e vestir a farda, todos os componentes da banda foram para a beira do açude público de Lima Campos ( Obra construída em 1932, que atualmente integra o projeto de irrigação Icó-Lima Campos ).
Na banda só homens. Mulher não tocava em banda, nesse tempo.
Portanto, todos ficaram muito à vontade. Inclusive o maestro João.
Ele era um homem de poucas palavras. Cabloco, moreno, forte, cem quilos de peso. Quase dois metros de altura. Era donzelo. Morava sozinho na sede da banda, localizada na Rua " Do Meio", a mais antiga rua da cidade.
Em determinado momento, o saxofonista Pedro de João Marcos, aosair da água, teve um susto. Ficou pasmo... Abismado... Enxugou bem os olhos para acreditar no que estava vendo... Mais calmo ele mirou bem para as partes íntimas do maestro João, e num gesto muito natural, sem qualquer maldade no coração, perguntou: " Maestro João, que bicha grande é essa?", valha - me Deus.
O Maestro João respondeu: " Tá sendo besta? Tá faltando assunto? Não tem o que conversar não? Eu lhe dei alguma liberdade para isso? Fique calado..."
Mas diante da supresa, Pedro de João Marcos não se conteve e ainda acrescentou um pequeno comentário: " Maestro João, essa bicha dá um palmo e meio".
Os músicos que ali estavam tomando banho, embora obedecendo a um regime que era semelhante ao do exército, começaram a rir e a fofocar. Conclusão: Passaram a apelidar o chefe da banda de Maestro João Palmo e Meio".
Nesse dia ele ainda quis brigar. Puxou faca. Ameaçou botar prá fora da banda o músico que o chamasse por esse apelido. Tudo em vão. Para que o apelido tomasse proporções maiores sem ter que estar explicando a razão, foi apenas um pouco abreviado. Ficou " Maestro João Palminê"...
O nome dele de batismo se perdeu com o tempo. Eu já o conheci por esse famoso apelido.
E ele mesmo, achava a coisa mais linda, quando Zequinha Aleijado, locutor das difusoras do parque de diversão, durante a festa de nossa padroeira, anunciava:
" E neste momento Senhoras  e Senhores, pedimos a atenção de cada um de vocês, para ver o espetáculo que é a apresentação da Banda de Música Senhor do Bonfim, sob a regência do Maestro João Palminê".
A banda desfilava tocando o dobrado jubileu sobre o patamar da igreja. E o Maestro João, já conformado, admitindo o apelido, fazia a regência sorridente e feliz.

Texto extraído do livro " Histórias, Estórias, Crônicas e Causos". João Dino

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